Pressão escolar: excelência de ensino é sinônimo de uma mente saudável?

23/09/2019

Por: Giovanna Ribeiro  

Cerca de 80% dos alunos entrevistados se sentem pressionados em relação à escola, dos que estudam em escolas de excelência, 30% possuem algum transtorno mental 

Uma pesquisa feita pela Nova Mente, em 2019, realizada em duas escolas conceituadas e bem colocadas no ranking do Enem (Liceu de Artes e ofícios de São Paulo e Etec São Paulo), aponta que a escola pode ser um dos fatores que contribui para o desenvolvimento de transtornos mentais. A maioria dos estudantes entrevistados afirma que se sente pressionado em relação à escola e 30% relataram possuir algum tipo transtorno mental.

Vamos admitir, quem nunca se sentiu ansioso antes de fazer uma prova ou passou noites em claro estudando para fazer aquele trabalho que vale metade da sua nota no boletim? Bom, de fato, é muito comum fazermos esse tipo de coisa, mas até que ponto isso é saudável?

A nossa pesquisa buscou entender se há relações entre a saúde mental e emocional dos estudantes com a escola. Esse estudo apontou que 80% dos jovens se sentem pressionados em relação à escola, sendo que os entrevistados alegaram que essa pressão deriva de diversas circunstâncias, como por exemplo, o sistema de notas imposto pela instituição, que de acordo com os estudantes, aumenta o sentimento de competição entre os alunos, colocando-os num cenário no qual todos querem ser os melhores em tudo sem levar em consideração o desenvolvimento pessoal de cada um. Outro fator citado foi a falta de tempo para outras atividades devido a carga horária escolar.

Tá, legal, e o que o desenvolvimento de transtornos mentais tem a ver com tudo isso?

Tendo em vista toda a pressão psicológica exercida em cima desse aluno, a pesquisa descobriu que mais de um quarto dos alunos tem transtornos mentais, o que pode até parecer um número baixo, mas na verdade ele é considerado alto se levarmos em consideração que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, um em cada cinco adolescentes enfrenta problemas de saúde mental, essa mesma organização também realizou estudos no Brasil, os quais apontam que 23 milhões de brasileiros, ou seja, 12% dos brasileiros sofrem com transtornos mentais, dentre eles, ansiedade, depressão e bipolaridade, que inclusive são os transtornos que mais afetam os entrevistados. Muitos jovens relataram que os problemas começaram junto com o início do ensino médio, outros alegaram que sempre tiveram a doença, mas que ela se agravou com a pressão da escola, vestibulinhos e vestibulares. Confira algumas respostas na íntegra para a seguinte questão:


Você sofre de algum transtorno mental/emocional? Se sim, quando ele começou?

"ansiedade e depressão, começaram com problemas da escola e familiares"

"Não é algo nada grave, mas minha ansiedade aumentou bastante depois de entrar na etesp"

"Ansiedade e depressão desde criança mas na etesp piorou"

"Ansiedade, quando comecei o ensino médio"

"Ansiedade, começou na Etec mesmo"

"Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG): Fui diagnosticada em 2018 (coincidentemente quando entrei no Liceu) mas os sintomas já existiam desde 2014.

Transtorno da Alimentação Compulsiva (TAC): Fui diagnosticada em fevereiro/2019, mas é presente desde 2018. Começou na época do vestibulinho"

"Eu fiquei mais temperamental e com menos disposição, desde que comecei o ensino médio"

"Ansiedade, começou no meu primeiro ano do ensino médio"

Analisando todas as respostas podemos afirmar que está mais do que claro que a escola influencia no desequilíbrio da saúde mental e pode agravar o quadro do indivíduo dependendo de qual for a doença, porém não podemos afirmar que ela seja um fator determinante para o desenvolvimento desses transtornos, pois não foi levado em consideração outros parâmetros como o contexto social e familiar dos alunos, tendo esses, grande influência na formação desse tipo de problema.


Como podemos resolver essa situação?

A escola tem papel fundamental na formação do aluno como indivíduo na sociedade e preparação para a cidadania, portanto é contraditório que ela instigue os seus estudantes a sempre serem os melhores em tudo, sem levar em consideração que ninguém consegue ser um "gênio" em tudo. Cada pessoa tem um ritmo diferente de aprendizagem, logo uma mudança no sistema de notas seria uma opção para acabar com esse sentimento de competição e dar lugar a novos métodos de aprendizagem, que se adequem às peculiaridades de cada aluno, porém essa mudança é extremamente complicada, pois não depende apenas da escola, mas sim de todo um sistema educacional que é seguido no país. A maioria das instituições visam atender as demandas dos vestibulares e acabam optando pelo método conteudista, entretanto a escola pode realizar algumas mudanças internas a fim de amenizar o problema, como a disponibilização de palestras e auxílio psicológico, que inclusive foram questões apontadas pelos alunos , os quais afirmam que esses procedimentos têm grande importância para ajudá-los a lidar com sua saúde mental.


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